Na semana em que Sant’Ana do Livramento completa 197 anos de fundação, uma verdadeira relíquia, que guarda em si pedaços ainda não contados das memórias da fronteira gaúcha, é o tema central desta reportagem. Uma espada, com mais de 150 anos, que foi desembainhada agora para recontar os tempos idos e desatar velhas lembranças. Trata-se de um objeto dos tempos do “a ferro e fogo”, das guerras, dos campos ainda abertos, sem aramados e das lutas demarcatórias que balizaram o chão onde pisamos.Uma relíquia que também faz lembrar os 175 anos da Revolução Farroupilha comemorados em 2020.
Entre tantos objetos de valor sentimental, próxima às prateleiras enfeitadas com retratos antigos amarelados, repousa a espada presenteada pelo próprio Imperador Dom Pedro II.
O ano era 1845, marcado para sempre na história do país pelo fim dos 10 anos da sangrenta Guerra dos Farrapos, que resultou em inúmeras mortes nos dois lados do conflito entre os farroupilhas e os imperiais.
O guardião da espada, que prefere não se identificar, diz que alguns anos após o fim da guerra, o até então alferes e ordenança do General David Canabarro, Davi José Martins (sobrinho de Canabarro), gaúcho, natural de Sant’Ana do Livramento foi convocado pela corte do Rio de Janeiro pelo então imperador Dom Pedro II para ser nomeado comandante da fronteira gaúcha. Naquela ocasião, o monarca lhe presenteou com a espada forjada em Portugal que, inclusive, tem as iniciais do imperador e o símbolo da coroa portuguesa. Dom Pedro II foi o segundo e último monarca do Império do Brasil, tendo reinado o país durante um período de 58 anos.
A espada possui uma riqueza de detalhes que chamam muita a atenção por sua beleza; possui lâmina e bainha forjadas em aço de Solingen, localidade da Alemanha, e os detalhes tanto no copo da espada quanto na lâmina têm desenhos da corte portuguesa. Segundo a tradição militar, este modelo de espada era utilizado por um general cinco estrelas e fazia parte do seu uniforme de gala não sendo empregado a duelos ou atividades similares. O gesto do imperador em entregar o artefato ao rio-grandense diz muito sobre sua importância estratégica de guardião das terras sulinas.
De posse da espada, o General Davi José Martins volta ao Rio Grande do Sul e por mais de 25 anos fica no comando das tropas que guarneceram a fronteira dos ataques de invasores deixando um importante legado para as gerações futuras.
Hoje, na parede, emoldurado só resta um antigo retrato amarelado do general Davi José Martins segurando a espada que foi presenteada pelas mãos do próprio imperador, um pedaço significativo da história santanense, que ainda tem muito a ser contada e descoberta.